segunda-feira, 29 de abril de 2013

Os ultimos fins de semana têm sido de luz.
Porque tem estado sol e porque temos, em nós, espectros de luz.
Veio o bom tempo e, com ele, os picnics, a praia, as bicicletas, os jogos ao ar livre, as mangueiradas, os pés descalços no chão.
E eu deitada no colo dele, com raios de sol a inundar-me o corpo e a alma.

Gosto dele em dias de luz. Que é como quem diz que gosto dele todos os dias. Ou que nao há dias sem luz com ele na minha vida...Ou que gosto dele sem mais:)

terça-feira, 23 de abril de 2013

O que faz com que os filhos sejam nossos?

Aos quase 40 anos, tenho poucas certezas. E, na verdade, cada vez me preocupo menos com isso. Aceito as verdades de hoje como possiveis inverdades amanhã e vice-versa. Acho que sou, apesar de tudo, muito mais flexivel - em relação a verdades e a certezas - do que era antes.
Mas há uma certeza que eu tenho. daquelas certezas que nunca, nunca, NUNCA, o vao deixar de ser: Os meus filhos são meus. E são meus nao porque nasceram da minha barriga (num dos casos, até nem vi:)) mas porque os amo como meus filhos.
Podiam ter nascido doutra barriga, podiam ter outra mae biológica, podiam ser adoptados, que seriam sempre MEUS filhos. Porque o amor está no coração e nao na barriga. E está na pele. Digo sempre isto, desde que os conheci: que nao gostei imediatamente deles... Quer dizer, também nao os desgostei, naturalmente, mas quando nasceram, eram apenas crianças, iguais a tantas outras que, por acaso, me vieram parar aos braços e que, também por acaso, passaram a ser  a minha missão na vida. Nunca fui apaixonada pela minha barriga...
Só com o tempo, os gostei. Só com o tempo os senti meus e passaram a ser, de crianças iguais a tantas outras, as MINHAS crianças. E nao tenho qualquer duvida de que os amo mais a cada dia que passa. Amo-os mais hoje do que ontem. Amá-los-ei mais amanhã do que hoje. Porque são, todos os dias, a minha pele, o meu cheiro, o meu beijo, a meu abraço. Acordo todos os dias com a certeza que vale a pena, porque eles estão no meu mundo.
E sei que este amor nao se mede pelo tamanho das células que temos em conjunto, mas apenas pelo tamanho das particulas de que o nosso coração é feito.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Ás vezes falo-lhes torto. E sou má e nao tenho a paciencia que eles merecem. às vezes entornam o leite na cama, o caramelo na manta, partem candeeiros, puxam cortinas, deixam tudo desarrumado, nao vêm para a mesa quando eu chamo, lavam mal os dentes, lutam e resmungam e gritam e eu nao tenho paciencia.
E grito-lhes e dou uma palmada, que isto de se ter o poder é um virus... e sei que mereciam uma mae mais paciente e compreensiva como a mae do Ruca que até enerva, de tão perfeita que é!
E ás vezes - mais do que as que pretendia - nao sou.
Mas, sei que tento ser sempre melhor. E sei que, em nao sendo, preciso de lhes mostrar o reservo da mae. Que brinca, que está atenta, que é dedicada, que mima, que os ama incondicionalmente, mesmo nao sendo perfeita.
E por isso que quando o p. deixa a brincadeira a meio para me vir dar um beijo ou passar a mao no rosto, sei que estou no caminho certo. Posso ainda nao ter lá chegado e posso nao ser a mae do Ruca  - assim como assim, nem gosto do cabelo dela! - mas eles sabem que os amo... Devo estar a fazer alguma coisa bem feita...

Estava na caixa do supermercado e, em frente, no avião do noddy (sem moeda), os tres a brincar. Percebi que tinha de ir ao carro, mesmo ali ao lado, passei pelos tres a correr com um "vou ali ao carro a correr, nao saiam daí" (e com a minha mae, na mesma caixa, a supervisionar). A correr para o carro, ouço o J. a chorar: mamã... espera por mim!
Eu: podes ficar filho, vou só ao carro e venho já! ele: nao... vou contigo, mamã!
E podia nao ficar feliz com esta ainda tão grande dependencia do meu principe de olhos azuis de cinco anos... Mas fico. Chamo-o de bebé, o meu bébé, e ele a dizer-me que nao é bebé. E eu susurro-lhe: eu sei que nao és. Que és grande e forte, mas gosto de te chamar bebé porque és o meu filho mais novinho e eu gosto tanto de ti... deixas-me chamar-te de meu bebé? - Está bem, mamã... com a maozinha agarrada na minha, a caminho do carro do noddy, com os irmaos.
E é isso: Ainda bem que a vida nos surpreende, ainda bem que são tres e nao dois e ainda bem que o meu bebé é este meu principe de olhos azuis!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Ontem dei por mim a ler pedaços de um blogue da Rita. Que tinha 28 anos e um cancro que a matou. Escrevia bem, era interessante e com um enorme sentido de humor.
Morreu e ficaram as palavras dela. A historia de uma doença que a consumiu, mas nao venceu o seu espirito.
Li algumas palavras de dor. Mas nunca de queixume. Li que ás vezes lhe apetecia roubar a vida dos outros. dos que nao têm cancro.
O que eu a admiro, mesmo sem a conhecer. O que eu rezo, baixinho, à noite, para que tenha encontrado o seu lugar - feliz- no céu.
Nao a conheço, mas gostaria de ter sido sua amiga. Nao pelo cancro, que ODEIO, mas porque gosto de pessoas que aceitam a vida como o milagre que ela é, independentemente do tempo que por cá estão. porque me encantou a sua fragilidade e a sua força. A sua coragem e a sua vontade.
ADORO viver. É uma inevitabilidade. E, se ficasse doente (como acredito, aliás, que hei-de ficar. É outra inevitabilidade), nao seria generosa, nem bem humorada, nem intrinsecamente boa e nao queixosa. Tornar-me-ia amagra e ressentida, com pena pelo que nao viveria mais.
Mas, enquanto cá estou, livre de doenças (eu e aqueles que eu mais amo), que graça! que benção! que plenitude esta de acordar todos os dias, poder sair á rua e sentir o sol, a chuva, o quente e o frio! Que maravilha que é saber o mar e o céu e a relva. Saber o correr, o apalpar, o beijar, o sentir.
Cada vez mais, suporto menos bem más ondas... tão pouco o tempo que me resta... perdê-lo com merdices e lamentos nao é, de todo, o meu objectivo.  A vida nao é perfeita? who cares? é perfeita sim! perfeita com todas as suas imperfeições, com todas as suas dessincronias, com todas as rasteiras que nos vai pregando. Estamos cá! Melhor dar valor a isso enquanto o temos...

Há uma coisa que ainda nos falta em casa - fotografias a cinco.
Porque, convenhamos, nao é facil... estamos sempre juntos, é certo, mas juntos -preparados-e-dispostos-para-uma-fotografia-e-com-uma-máquina-fotografica-à-mão, é mais ou menos raro.
Mesmo nas férias, ou falta um ou falta outro, ou há uma mao ou um pé que ficam de fora:) mesmo deles os tres em conjunto, são raras as fotos que temos. Há sempre alguém que se lembra que afinal apanhar conchinhas ou olhar para o lado é muito mais giro que esperar que o flashe dispare...
Vamos tratar disso hoje! E, a partir daqui, memórias dos cinco gomos espalhados pela casa, em tons de azul...

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Ontem o meu amor queria correr (agora que anda com a mania que é desportista:). E tinha trabalho e ainda o lançamento de um livro onde queria estar presente. Mas, saiu mais cedo para os ir levar à catequese. E, quando os fui buscar, lá estava ele também á nossa espera, para ir connosco ao médico.
Bem lhe disse que nao era uma consulta importante, que era rotina e que podia perfeitamente ir sózinha... mas a verdade é que, desde que estamos juntos, nunca fomos a nenhuma consulta sem ele. Gosta de ouvir, de estar presente, de ter a certeza do que o médico diz. De repetir-lhes, aos tres, as recomendações médicas, de assegurar-se que as cumprem.
Viemos para casa juntos. Fizeram os trabalhos de casa, jantamos, tomaram banho e foram para a cama cansados. Ainda teve tempo, o meu amor, para brincar com eles. Para estarem abraçados na cama o tempo suficiente para o prenderem e lhe dizerem que nao queriam que de lá saisse.
Por fim, já quando estavam quase a dormir, saiu do quarto. E foi correr.

E é também por isso que tenho a certeza que os ama. Tanto quanto eu o amo a ele.

Para ele

'Se me apagares os olhos, ainda te posso ver./Tapa-me os ouvidos: ainda/ consigo ouvir-te./ E sem pés, consigo chegar até ao pé de ti./ E sem boca sei ainda invocar-te./ Arranca-me os braços: eu abraço-te/ Com o meu coração como se fosse uma mão./ Pára-me o coração e o meu cérebro baterá./ E se me pegares fogo ao cérebro,/Vou levar-te no meu sangue.'

Reiner Maria Rilke, O livro da peregrinação.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Passaram os tais dias em Lisboa. Eu e os nossos pequenitos. O meu amor nao foi.
"nao vais? queria tanto que tu fosses!" Disseram eles as palavras que ficaram caladas em mim. Queria que ele tivesse ido porque nao sei ser sem ele. Continuam os dias e as horas e eu continuo a acordar, mas a vida perde perfume, o dele. E eu, que sou uma pessoa de cheiros, que se encanta com olfactos, sinto-lhe a falta.
Foram 3 dias sempre a contar pelo 4º, aquele em que viriamos embora. 3 dias bons, apesar disso. Passados em familia, com muito atenção dada aos pimpolhos. Chegamos cansados, todos, e matamos saudades em beijos e abraços, no reencontro.
Depois a Páscoa. Com muita chuva. Tanta como nao me lembrava. Nao pudemos esconder os ovos no jardim mas escondemos na sala, atrás de sofas, de cortinas e em vasos e cadeiroes. Muitos doces, muito barulho, muitas crianças animadas, amigos, compasso, coração sereno.
Somos uma familia forte. muito convencional dentro de uma moldura de familia moderna.
Gosto de nós.