Ando a ler o livro geografia da felicidade. Ando a ler desde
Março, o que já podia não ser bom prenuncio, porque dificilmente demoro mt
tempo a ler um livro, mas não é o caso. Demoro porque tenho tido realmente uma
vida muito atarefada e chego á cama tão cansada que só me apetece vegetar com
uma revista cor-de-rosa ou séries de televisão que me façam rir e não pensar
muito e porque o livro se pode ler aos bocadinhos. Não se perde a continuidade
narrativa e dá perfeitamente para ler em “pedaços”.
Ora, cheguei agora ao fim da visita do escritor ao Butão.
Onde não há semáforos ou não havia quando lá esteve) e a vida anda mais
devagar. Já passou pela Suica, demasiado organizada, e pela Holanda, demasiado
anárquica.
Tento retirar, de cada livro que leio, algum ensinamento,
alguma aprendizagem. Tento, também por isso, pensar em mim em cada um desses
espelhos geográficos. E não sou capaz de decidir. É fácil pensar-me num país
sem semáforos, com uma única estrada, com poucos carros, onde não há pressa
para ir para lado nenhum. Mas não me parece que fosse aguentar muito tempo o
demasiado tempo que teria para gastar sem fazer “nada”. É fácil imaginar-me na
Suiça, onde o meu pai chegou a viver por alguns meses – e adorou -, com tudo
limpo e organizado. Mas sei que não me ia habituar ao frio nem ás imensas
regras a que os suiços me parecem sujeitos. Sou demasiado distraída, demasiado
desorganizada, demasiado sem regras no dia dia…. Já a Holanda… fiquei (ficamos)
encantados com a Holanda, ou com o que conhecemos dela. Ficamos encantados com
os dias de sol que encontramos, com o comboio, com os passeios de bicicleta,
com as cidades que visitamos, com os moinhos, com os pic-nics nos parques, com
os concertos, com os refrescos de hortelã, com os bares, os rios, a água. Mas
foi tudo numa época muito especifica, com amigos muito específicos. Seria capaz
de viver lá? Não sei… E não sei o que é que faz uns povos serem mais felizes
que os outros.
A minha geografia da felicidade resume-se á minha casa (em
sentido alargado) e ás pessoas que nela habitam. Resume-se ao meu coração e ás
pessoas que nele moram. A minha geografia da felicidade não se mede em
rendimento, nem ordem nem desordem. Mede-se pelos risos deles pela manhã, pelos abracinhos que recebo á
noite, num xi-coração apertado, pelo chilrear dos pássaros num dia de primavera,
pelo aconchego dos pés gelados que se aquecem, pelas conversas animadas com
amigos, pelas emoções dum livro ou dum filme, pela sensação de plenitude de uma
cama partilhada a cinco.
A minha geografia da felicidade está em mim. E está neles.
Vivamos nós em que país vivermos, desde que estejamos juntos e estejamos bem.