quinta-feira, 2 de outubro de 2014


O meu sonho de menina (um entre vários outros, na verdade) era aprender musica. Piano. Até muito tarde, vinte e muitos anos, sonhava ter um piano na sala, num lugar de destaque, onde me pudesse sentar e tocar, quando me apetecesse.

Sempre tive uma visão tão romântica de tudo… céus! Claro que os meus pais nunca tiveram dinheiro para eu andar a estudar musica e eu nunca tive um piano na sala. Podia ter aprendido mais tarde, é certo, mas com tanto para fazer, musica deixou de ser uma prioridade e ficou arrumada no cantinho das coisas do “contento-me com o que pode ser”. Canto muito, danço. Continuo a cantar com os miúdos e a dançar com eles. Às vezes quando acordamos, outras vezes na cozinha, outras vezes no jardim. Têm, os meus filhos, muito de musica em si. Alguma coisa será de tantas canções de embalar que lhes cantei, outro tanto será gosto que o P. lhe incute agora, um outro tipo de sons que também começam a saber apreciar. Mas têm musica em si e eu gostava que não perdessem isso. Gostava que o sonho deles não fosse aprender musica. Que esse, o meu sonho, fosse um mero facto nas suas vidas. Que o seu sonho não fosse ter um piano num cantinho da sala e que o piano (ou a guitarra, a bateria, o violoncelo ou outro qualquer) fosse apenas um acessório que transportarão consigo como mais um livro ou mais uma mochila.

Gostava que o sonho deles fosse maior (ou pelo menos diferente) deste. Nao porque este tenha sido um sonho menor, mas porque há tantas coisas mais com que sonhar! Este, que foi o meu sonho, gostava que fosse, na vida deles, um som.

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