A nossa vida era mais fácil antes de eles andarem na escola.
Quando eu chegava a casa, só tinha de os mimar, de brincar
com eles e fazer o jantar a seguir.
Agora, temos de os mimar, de brincar (tudo em menos de cinco
minutos) e orientar os trabalhos de casa antes do jantar (que passou a
acontecer mais tarde, naturalmente).
Isto com a agravante de serem dois a trabalhar em paralelo,
sempre a comentarem coisas um com o outro e a distraírem-se mutuamente e um
outro aborrecido sem os irmãos para brincar, a tentar destabilizá-los.
É claro que era mais fácil se pedisse á minha mae para os
acompanhar antes da nossa chegada a casa, mas não me parece que seja uma tarefa
de avó. É uma tarefa nossa, minha e do P., que devemos apanhar com o bom e o
menos bom. Este é, claramente, um dos momentos menos bons do nosso dia.
Porque eles já estão cansados, porque querem é fazer
qualquer outra coisa divertida, porque nós não temos grande paciencia, porque
perdemos imenso , porque nos deitamos mais tarde e porque nos desgastamos.
Depois, a velha questão: Será que os devemos de facto
orientar, como fazemos, ou não?
Confesso que a nossa politica é orientá-los. Nunca lhes
fazemos os trabalhos, nem lhes dizemos como se fazem, mas estamos por perto a
ajudar a interpretar e a corrigir no final.
Aborrece-me que tenham trabalhos de casa todos os dias, mas
percebo o objectivo. E na verdade, ainda que não percebesse, não adiantava grande coisa;)
Ano passado havia mais resistência da parte deles, sobretudo
do p. primeiro ano escolar com trabalhos todos os dias, não foi fácil… este ano
já estão resignados. Continuam a não gostar dos trabalhos, mas já não resmungam.
Não sei se somos muito exigentes com eles. Não sei se é
certo dizer-lhes que um bom não é bom e que só um muito bom é aceitável. Têm 7
anos, bem sei, mas, achamos nós, precisam de perceber que sem esforço não e cresce (ou não se deve crescer)
Têm a vida tão facilitada, os nossos filhos…
Com uma vida bestial e acesso a tudo… não lhes fará mal
perceber que não é só ter. Que o ser é o mais importante. Que o ser parte
de nós e que, independentemente do muito que possam ter, têm a obrigação de se
esforçarem para merecer o que a vida lhes dá. Até porque nada é certo e que o
têm hoje podem não ter amanhã.
Precisam de crescer com a noção de que devemos
dar tudo o que temos. Que estar aquém das nossas possibilidades não é uma
opção. Que merece mais reconhecimento quem atinge menos mas dá tudo de si, do
que quem atinge mais, mas sem esforço.
Quero que se orgulhem de si também enquanto processo e não apenas
em resultado.
Por isso, um bom há-de continuar a ser pouco, enquanto
perceber que são capazes de mais.
E havemos de ter menos tempo para brincar, havemos de jantar
mais tarde, de tomar banho mais tarde e ir para a cama mais tarde. Havemos de
ter amuos e resmunguices e chamadas de atenção. Mas havemos de sobreviverJ e de crescer na noção
de esforço, de solidariedade e companheirismo familiar.