quinta-feira, 16 de outubro de 2014

amor sem limites


O que é que nos faz dar tudo de nós aos nossos filhos sem pedir nada em troca? O que nos faz amá-los sem condições ou limitações?

Não sei. Não sei porque é que amo os meus filhos assim. Sei que os amo e pronto.

Sei que aceito as suas imperfeições, as suas incongruências, as suas birras e mau feitio matutino, as suas infantilidades, sem nunca, nunca, os amar menos. Sei que resmungo e que perco a paciência mas em momento algum deixo de ter o mesmo amor, a mesma atitude, a mesma entrega.

Lembro-me de ter sido criança. Lembro-me tão bem de ter sido criança…

De ter manhãs na cama a brincar com o meu pai, de ter a minha mãe a contar-me historias por ela inventadas horas a fio até adormecer. Lembro-me de, já bem grandinha (muito grandinha até), a minha mãe continuar a levar-me (a mim e á minha irmã), o pequeno almoço à cama. Lembro-me do meu pai andar, muito, muito doente, a calcorrear as ruas de santa catarina á procura, comigo, de umas calças de ganga que ele, quase a morrer e a receber subsidio de desemprego, pudesse pagar, sem se preocupar com a minha estupida vaidade e egoísmo. Lembro-me de nunca ter feito a minha cama. Lembro-me de inventar que tinha muito de estudar para não limpar o pó ou outra coisa qualquer. Lembro-me dos olhos imensamente orgulhosos e doces do meu pai a ver-me na serenata com um traje que ele não comprou, porque me foi oferecido, mas que compraria nem que para isso tivesse de deixar de tomar medicamentos. Lembro-me dos vestidos que a minha mãe me fazia e dos sapatos que me comprava, mesmo que a roupa e sapatos delas estivessem quase rotos.

Lembro-me que, da nossa comida, a melhor era sempre para mim. Lembro-me de o meu pai me levar, sempre a pé, aos ensaios do grupo coral, todas as quartas feiras á noite, mesmo em noites de muita chuva e vento, e de ficar sentado, á minha espera, até que acabasse.

Lembro-me que, fizesse eu o que fizesse, fosse eu quem fosse, nunca deixaram, nem deixariam de me amar. Nunca os meus pais me exigiram nada, nunca me pediram nada.

Este é o exemplo que eu tenho. É este o único exemplo que posso e quero seguir.

Não quer isto dizer que haja falta de regras lá em casa. Com 6 e 8 anos  já poem a mesa, levam o lixo á rua, levantam a mesa, tomam banho sozinhos, arrumam a sala quando a desarrumam, vestem-se sozinhos de manhã. Há regras, sim. Colaboração essencial à coexistência de uma família com três crianças. Temos, todos, o nosso papel. O deles, apenas de filhos. Que merecem nada menos do que eu tive. Também não precisam de mais. Basta o que eu tive, que fui uma criança imensamente amada e feliz. Sei que foi essa infância feliz e equilibrada que me permitem ser hoje uma adulta feliz e equilibrada. Sem neuras, sem dramas. Com serenidade suficiente para encarar sempre o presente e o futuro com esperança, com alegria. E com memória do que fez crescer assim.

 

5 comentários:

  1. Tão bonito! Revejo-me em muito do que escreveste.
    Um beijinho

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  2. Bolas como me emocionei com o primeiro post que leio aqui.
    Realmente não precisamos de muito, nem os nossos filhos precisam daquilo que nunca tivemos, o que precisamos todos é de amor, de carinho, de afectos e tudo o resto é por acréscimo!

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  3. Não há uma fórmula mágica para educar os miúdos. Nada do que possamos fazer, nenhuma regra que possamos impor nos garante que eles vão ser adultos íntegros e felizes. Resta-nos dar o nosso melhor, fazer aquilo que achamos correcto e rezar meia dúzia de Pai Nossos.
    :)

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  4. se houvesse essa formula, eu comprava:)
    em não havendo, resta-nos apenas, como dizes, tentar dar o melhor...beijinhos!

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