quinta-feira, 16 de janeiro de 2014



A querida M., que lê este cantinho, diz-me, volta e meia, que os meus textos a inspiram…

Isso é bondade dela, que eu sei. Os meus textos nada têm de inspiradores…. Mas acredito que a minha estória seja, pelo menos, demonstrativa da capacidade de acreditar. Em nós, na vida, em segundas, terceiras e tantas oportunidades que nos vão aparecendo pela vida.

Fiquei sozinha com três bebés. Dois com 23 meses, um com 11. Seria hipócrita dizer que foi fácil. Claro que não foi. A determinada altura o trajecto que tinha delineado deixara de o ser e eu senti a minha própria identidade fragilizada.

Quem seria eu fora daquela vida em que eu estava?

Não foi fácil, mas não foi impossível.

Eu e os meus três bebés eramos uma família. Eu, para além deles, era uma pessoa cheia de vontade de estar e de ser.

Redescobri-me, então, em mim. Passei a ser, acho eu, uma pessoa muito mais interessante. A minha irmã, pelo menos, diz que simJ Diz ela que gosta muito mais de mim agora…

Ganhei novos amigos, recuperei antigos amigos, descobri novos interesses, fiz coisas que sempre quis fazer e que fui deixando para trás, abri-me à fotografia, á musica, á dança, saí da minha zona de conforto.

Tive algumas lutas externas (mami e tentar perceber, também ela, quem era esta nova filha, passado a tentar re-encaixar no presente) e internas (seria este o caminho certo, seria eu suficientemente forte, suficientemente interessante, suficientemente mãe), mas dei a mim o tempo necessário para estabilizar-me. Depois, seria mais fácil.

E foi.

O que nunca perdi de vista foram os meus filhos. Não me colei a eles, não os absorvi em mim, não compensei a ausência de amor com o amor deles,  mas nunca, em momento algum, os perdi de vista. Fomos sempre, os quatro, um nó. Um laço bem apertado no coração. Fomos, sempre, felizes e equilibrados, mesmo quando eu, sozinha, não tinha encontrado ainda o meu equilíbrio.

Depois, foi mais fácil.

Descoberto o meu caminho, o meu eu, dei de caras, sem esperar, com o meu amor.

É claro que o achei lindo no momento em que o vi (ele achou-me resmungona e faladora…), mas só soube que ele era e seria o meu amor, alguns dias (não muitos) depois.

Não acho, honestamente, que a vida me tenha dado outra oportunidade. O que eu acho é que a vida está cheia de oportunidades e de certezas. O P. não era uma oportunidade, era uma certeza. Tive apenas de fazer algum caminho até ele. E ele, algum caminho, até chegar a mim.

No caso dele, um caminho para uma família de quatro, que aceitou, sem alguma reserva, como dele. Sei, de uma segurança absoluta, que os meus filhos são os filhos dele, que não há mais amor em mim por eles do que nele.

No meu caso, um caminho para ele se encaixar em nós, para criarmos, de raiz, uma família de cinco, como se nunca tivesse sido sem ele. Num amor que nunca antes existiu em mim e que lhe estava destinado.

Esta minha estória não é inspiradora, portanto. É, tão-só, prova de que a realidade supera os sonhos e que ser feliz é uma questão de certeza. Mais vale, por isso, ser feliz sempre, em nós. Com a segurança de que a felicidade com os outros é uma certeza, no momento certo.

 

 

1 comentário:

  1. Desculpa-me discordar de ti, mas as tuas palavras são verdadeiramente inspiradoras. Compreendo que tendo vivido tudo aquilo que viveste tenhas a visão própria (e única) de quem as viveu, mas para quem não te conhece e te lê, estas palavras são, todas elas, uma inspiração. Obrigada por as partilhares. Mesmo. Um beijinho

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